Páginas

17/03/2017

Cinco razões pelas quais os teus alunos não te escutam enquanto os ensinas



Falas e não te ouvem? Explicas e não fazem a mínima ideia do que dizes? 
Tens a sensação de que estás a falar com as paredes? 
Fartas-te de falar e não consegues sequer que um aluno te olhe nos olhos? 

Por que é que os teus alunos não te escutam?

1. Aula magistral. 


Se queres que os teus alunos te escutem deves começar por reduzir ao máximo o que é vulgarmente entendido por aula magistral, e que não é outra coisa mais do que aquela aula em que tu falas e os teus alunos escutam. Queixas-te, muitas vezes, que os teus alunos não prestam atenção ao que tu ensinas e isso acontece porque tu falas mais tempo do que o tempo que os teus alunos são capazes de aguentar. Sim, é verdade. Gostes ou não. Pensa um pouco. Serias capaz de ouvir ininterruptamente, durante 45 ou 90 minutos? Permite que te dê a resposta: Não. Então não queiras para os teus alunos o que não és capaz de aceitar para ti. Assim recomendo-te:
  • Não ultrapasses 10 minutos a explicar um assunto, numa comunicação de sentido único
  • Faz pausas que permitam que os teus alunos “respirem”, durante as quais podes contar uma história ou uma “piada” a propósito do tema. Mas cuidado com as histórias ou piadas que contas. Elas têm de fazer mesmo parte do conteúdo que queres ensinar. Não podem vir naquela de: “estamos aborrecidos, agora aqui vai uma piada para animar”. Nestas condições a tua história ou piada vira assunto e o assunto que trazias acaba de vez.
  • Utiliza imagens e vídeos, sempre que possível, na abordagem dos conteúdos mais teóricos. Uma imagem vale mais do que mil palavras, dizemos tantas vezes. E é verdade, mas apenas quando a imagem revela as mil palavras que já temos em nós e que não sabíamos dizer até então.

2. Silêncio. 

Como é possível pedir silêncio numa sala com mais de vinte alunos? Se pensares bem, verás que é um autêntico disparate. Assim, esquece, de uma vez por todas o “eu falo e tu calas-te”. Não funciona. É um tipo de ensino que para esta geração de alunos virou obsoleta, quer dizer, só com puxões de orelhas e reguadas nas mãos como auxiliares de ensino, chegarias a eles desta forma (e mesmo assim!...). Se queres que os teus alunos prestem atenção ao que dizes, deves promover a sua participação ativa na aula. Dá-lhes todo o protagonismo que lhes puderes dar. Deixa que eles façam parte da aula que tens para dar. Para isso:
  • Procura conhecê-los. Descobre o que os teus alunos sabem sobre o que tens para ensinar (planear a aula com eles talvez não fosse má ideia).
  • Intercala a tua exposição com perguntas que convoquem esses saberes e promove o diálogo entre os alunos e entre eles e ti. Como diz Phiippe Meirieu, “em pedagogia, ao contrário de muitas outras áreas, é preciso sempre dizer muito e não o bastante”.
  • Não peças aos teus alunos que se calem. Incentiva-os a participar, reconhecendo os seus êxitos e estimulando-os a aprenderem com os seus erros.

3. Repetição. 

O pior que podes fazer, além de falar sem parar nas tuas aulas, é repetir constantemente aquilo que ensinas. Se não gostas que te repitam constantemente a mesma coisa, como podes pensar que os teus alunos possam gostar? A repetição é o maior inimigo da escuta ativa. Ela serve para mecanizar, para criar automatismos, mas é ineficaz no ensino de conteúdos teóricos. Para evitar repetições excessivas dos assuntos que tens para ensinar, o que deves fazer é:
  • Recapitular – numa síntese serve para avaliar o dia: o que se disse e o que falta ainda dizer [podes pedir a um dos teus alunos que faça esta síntese com a tua ajuda];
  • Parafrasear - que também é uma forma de recapitular;
  • Sintetizar – uma forma de recapitular, centrando o olhar no essencial;
  • Reformular - juntamente com a paráfrase “convidas” a olhar o assunto com outro olhar.
Explica o mesmo, mas sem falares do mesmo. Faz com que cada aula pareça a primeira e a última.

4. Utilidade

Alguma vez te perguntaste se aquilo que ensinas ajudará os teus alunos no curto e médio prazo? Caso aquilo que ensinas seja útil, como o “vendes” na aula? Que aplicação lhe dás na vida real? Dificilmente conseguirás que os teus alunos te escutem, se não eles forem capazes de ver para que serve aquilo que ensinas. Por isso recomendo-te que:
  • Não ensines aquilo que ele pode aprender por si mesmo;
  • Foca-te no essencial – não te disperses com demasiados conteúdos;
  • Investe mais nos processos do que nos conteúdos [ao investires na melhor forma de passar os conteúdos que tens para ensinar, verás que o essencial do que tens para dizer, virá ao de cima];
  • Transforma a aula magistral numa aprendizagem cooperativa. [sobre este assunto segue a seguinte ligação »»»»]
 Contextualiza a aprendizagem dos teus alunos, quer dizer, faz com que eles tenham curiosidade em pôr em prática o que aprenderam na aula

5. Aborrecimento.
 

Desengana-te. Escutar aborrece. Sim, aborrece muito. Cada vez mais nos custa escutar de uma forma ativa. Com efeito, os teus alunos não têm a mínima predisposição para a escuta ativa. Ensinas num contexto totalmente irreal, quer dizer, obrigas a escutar quando tu queres ou quando achas que devem fazê-lo. Os teus alunos apenas te escutam por obrigação. Sabem de antemão que vais falar, do que lhes vai falar, e quanto tempo lhes vai falar. A mim, se me permites a expressão, tudo isto me parece desolador, demolidor. Então, como podes ultrapassar esta predisposição para o aborrecimento? Encontrar a solução é o teu maior desafio:
  • Paixão pelo que ensinas e como ensinas;
  • Entusiasmo na hora de fazer-lhes ver que o que ensinas será uma experiência que será parte inequívoca das suas vidas;
  • Criatividade contra o aborrecimento e a previsibilidade;
  • Imaginação para adquirir novos conhecimentos a partir do que são capazes de aprender por si mesmos.
Escutar para quê? 

Fico com a sensação de que este artigo se poderia resumir a uma só palavra: auto-conceito. Tu pensas que não te escutam quando na realidade é o teu conceito de sala de aula, que é de tal forma uma imagem de ti (que construíste em ti como natural) que te leva a estar equivocado. Quando ensinas pedes que te escutem, que se interessem e entendam o que tu dizes; que memorizem e recordem e que, para além disso, o façam quando tu queres e em silêncio. Se modificares o conceito de sala de aula que faz parte da imagem do professor que te ensinaram ser, e que se colou à tua pele, em grande parte através do aluno que foste, muito provavelmente viverás as tuas aulas de uma forma completamente distinta e poderás começar a desfrutar não do silêncio, mas da participação, não do que dizes mas do que escutas dos teus alunos. 
Acabo com esta frase de Martin Seligman de que tanto gosto e que recordo quando entro na sala de aula:
“Pode-se mudar o que se sente, mudando o que se pensa”

https://sites.google.com/site/agoragaia/opiniao-artigos/cinco-razoes-pelas-quais-os-teus-alunos-nao-te-escutam-enquanto-os-ensinas